As
pesquisas realizadas mostraram que os alunos possuem concepções sobre óptica e
estas concepções se iniciam em um período inferior, ao inicio da idade escolar,
isto foi possível constatar na entrevista com os alunos, principalmente, na
questão referente à vela. Estes conceitos desenvolvidos consistem em uma fonte
de resistência, tornando-se um obstáculo na aprendizagem.
Desta
forma desenvolvi a seguinte teoria, segundo a qual a mudança conceitual nos
indivíduos se assemelharia à mudança de paradigma na ciência, proposta por Kuhn
(2003). Desta forma procurei relacionar a mudança conceitual como mudança de
paradigma. Para isto utilizei uma sequência de aulas para que o aluno pudesse
mudar os seus conceitos espontâneos sobre óptica para os conceitos científicos,
desta forma estaria fazendo com que o aluno, produzisse a sua “revolução
científica”. Estás aulas foram desenvolvidas de tal forma que as concepções dos
alunos fossem expostas a contra exemplos, pois desta forma, assim como na
teoria descrita por Kuhn, as anomalias (observações que contradiziam o
paradigma vigente) eram fatores importantes que impulsionavam a mudança de
paradigma. Desta mesma forma as concepções apresentadas pelos alunos perderiam
força, enquanto os conceitos científicos ganhariam força.
Entretanto
no desenvolvimento dos trabalhos foi possível perceber que somente este modelo não
seria suficiente para mudar os conceitos alternativos. Poderia ainda destacar
que o uso de estratégias de conflito são necessárias para criar insatisfação
com concepções não científicas, mas não são suficientes para promover mudanças
estruturais nos conhecimentos dos estudantes. Pois este modelo proposto não
leva em consideração as questões afetivas. Desta forma existe uma persistência
das concepções alternativas às estratégias de mudança conceitual. Em outros
casos a mudança conceitual é momentânea, pois em certas situações as mudanças
conseguidas nas concepções dos estudantes em um momento reaparecem em um período
de tempo muito curto. Assim a relação entre a mudança de paradigmas na
comunidade científica ao longo da história da ciência e a mudança na
organização das concepções alternativas dos alunos não são tão evidentes. Foi
possível notar também, que as concepções dos alunos não possuem as
características de um paradigma (no sentido atribuído por Kuhn), pois a
linguagem professor aluno é diferente da linguagem cientista, isto
foi possível de ser notado na grande dificuldade que os alunos tem de entender
conceitos básicos como; retilíneo e oblíquo, desta forma para um melhor
desempenho seria necessário uma melhor estrutura didática para superar estas
barreiras.
A
visão de mudança conceitual pressupõe que o conhecimento prévio deve ser
banido, eliminado para que um novo conhecimento: cientifico possa ser instalado
no aluno. Entretanto o que foi possível notar é que o aluno, em alguns casos,
construiu para os conhecimentos científicos que estava sendo estudado, uma
versão alternativa que mistura o conceito científico com o conceito espontâneo,
que embora ele não perceba, é totalmente sem sentido na linguagem cientifica.
Essa nova versão alternativa tona-se muitas vezes parte do conjunto de ideias
em que o aluno acredita; desta forma ele representa muitas vezes o cientifico
com uma visão equivocada, desta forma ele é capaz de acertar determinadas
questões e errar outras onde se usa o mesmo conceito como as questões um (1) e
dois (2).
Outro
fato importante a se relatar com relação aos alunos, apesar de não aparecerem
nos testes, mas podendo ser facilmente constado na entrevista é que embora
esteja evidente que os alunos possuem concepções prévias sobre óptica, há
também o caso que existe a ausência de concepções a respeito de um determinado
conteúdo cientifico. Isto foi possível constatar, quando fiz a seguinte
pergunta para um aluno: O que é a luz? Com está pergunta foi possível notar que
ela não tinha a mínima noção do seria a luz, tanto que ela não me deu resposta
alguma. Então para uma analise futura, me pergunto o que ocorreu com as
concepções, dos alunos que não tinham concepções alternativas, será que uma
aula tradicional, onde não tivesse como objetivo a mudança conceitual os
resultados não seriam melhores. Além disso, será que a ausência de concepções
pode de algum modo dificultar as atividades em que os alunos são solicitados a
propor hipóteses.
Assim depois de uma analise clítica, do
processo em que deveria ocorrer uma mudança conceitual, da mesma forma em que
ocorre uma revolução cientifica, foi possível notar que as estratégias usadas,
para obter os objetivos foram pouco efetivas e que os alunos não abandonam
concepções anteriores quando constroem concepções novas em alguns casos existe
somente uma mistura e as duas concepções começam a habitar o mesmo individuo. Foi
possível notar ainda, que certos alunos, davam uma determinada resposta, não
por acreditarem nesta resposta, mas por que era a “resposta do professor” e
desta forma após um curto período de tempo voltavam a usar os conceitos
espontâneos. Foi possível ainda perceber exemplos de situações em que os
alunos, ao invés de terem sofrido mudanças conceituais, adquiriram concepções
novas que passaram a coexistir
com as anteriores, como no caso das questões cinco, seis, sete, oito e nove
onde ele usa o conceito de deslocamento retilíneo da luz para resolver ao mesmo
tempo em que usa o conceito espontâneo da luz fazendo curva para resolver a
questão dez. Este fenômeno contribuiu para varias interpretações no
teste, que somente foi solucionada após a entrevista.
Desta
forma é possível notar que independentemente da ocorrência ou não de mudanças
de natureza conceitual, a aprendizagem de conteúdos de física é um processo que
requer construção e reconstrução de conhecimentos. A reconstrução sucessiva se
torna necessária, a meu ver, porque os alunos, ao receberem um conhecimento o
constroem fazendo adaptações aos seus conhecimentos já existentes e desta forma
apresentam diferentes graus de dificuldade em interpretar as informações
veiculadas em aula de modo a construir conhecimentos científicos. Outro fator a
se levar em consideração é a formação de professores de física, como visto
anteriormente, a sua grande maioria é composta por professores originalmente
composta por professores que possuem em sua origem a formação em matemática,
isto impossibilita que muitas vezes seja feita uma discussão conceitual da
física e o conteúdo fica quase que exclusivamente no campo da matemática.
O
grande objetivo do trabalho era possibilitar a mudança conceitual, entretanto
não foi possível, mas devo salientar que o aluno, no fundo se comportou como um
cientista normal que não troca as suas teorias pelas as novas. Talvez isto
ocorreria se a física começasse a ser ensinada no ensino fundamental desta
forma os conceitos científicos começariam a desenvolvidos antes dos conceitos
alternativos, pois se analisarmos os conceitos científicos é um conceito recém
descoberto e o conceito espontâneo é um conceito com anos de tradição e isto
faz a diferença
Referências Bibliográficas
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Tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. Título original: The Structure of Scientific Revolutions.
Data de publicação original: 1969.
Construtivismo,
mudança conceitual e ensino de ciências: para onde vamos?
Eduardo Fleury
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v. 18, n.1: p. 26-40, abr. 2001.
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